África

A viagem para Luanda, em Angola, mexe com a cabeça de todo mundo. É impossível ser diferente. Imagina-se a África, mas quando efetivamente aterrisa-se neste continente, a sensação é outra.

Por mais que se escreva, é impossível descrever o que é a Angola. A diferença social é gritante. E o luxo não existe nem nos hotéis de luxo... Nos 5 estrelas há uma crise de quartos e tem gente que não tem onde dormir. E se não dorme nesses hotéis de 300 dolares, tem que dormir em quarquer buraco! E esse tipo de hotel tem lotação de 100% há três anos. Em que lugar do mundo isso é possível?

Luanda é triste, mas as pessoas são felizes - porém formais - e já acham que é uma grande vantagem estarem vivos e viverem em paz. Tudo é um grande jogo político e o presidente é dono de praticamente tudo, mesmo que indiretamente. Ele está no mandato há mais de 30 anos. A maior parte da população tem até 24 anos, é semi-analfabeta e quem tem mais de 30, segundo eles, já matou alguém... Por isso, os senhores com seus cabelos grisalhos são praticamente deuses.
O clima, entretanto, não é de inseguranca. Sei que a condição de turista/trabalho nos coloca numa bolha - tendo acesso a tudo de bom e do melhor por lá - mas mesmo assim quando você menos vê passa uma moça vendendo frutas na cabeça com um bebê amarrado nas costas. A submissão do povo tambem é outro reflexo de tantos anos de guerra civil e ditadura. O trânsito então, inimaginável. Lá não tem ônibus, muito menos mêtro. As pessoas andam de van suicidas e os ricos com uns carros que nem na Europa se vê. Eu mesma andei com uma puta Mercedez com motorista de terno e tudo. E não é só isso, as ruas não tem endereços, a luz cai várias vezes em menos de uma hora. Claro que internet, nem pensar... Muito menos Correio...

Por outro lado a cidade vive em clima de obras. Acho que em cinco anos muita coisa já vai ter mudado. O fluxo de trânsito também deve melhorar, já que diversas construtoras brasileiras estão fazendo grandes obras de infra-estrutura e instalando faróis por toda cidade. Acho que a cidade muda muito em cinco anos. Eles tem muito petróleo e muito diamantel. Claro que grande parte dessa riqueza a ser ainda descoberta será explorada por aqueles que já tem dinheiro demais. Mas sabe que também conheci muita gente corajosa, desbravando aqui, encarando muitas dificuldades - seja pela grana, seja por ideiais.

Não posso deixar de citar o fluxo de imigração chinesa. Eles chegam em todos os vôos e vêem sem falar nenhuma palavra do idioma. Desconfia-se que muitos deles sejam até fugitivos da prisão.

Mas Angola não é só choque. Angola é ritmo. Conheci duas grandes vozes Angolanas - Yuri da Cunha e Yola Semedo - que detonaram tudo no show no Estádio dos Coqueiros na noite de sábado - veja os moradores do prédio que deram seu jeito para assistir ao show. Ficou mais do que provado que o gingado do baiano vem exatamente do outro lado do oceano! E viva Angola!