06/03/2008

Ídolo

Indescritível, mas, com um bom esforço, seguem algumas palavras. Valeu cada R$ 0,60 por minuto pago, embora não se dissipe a revolta com o preço alto do ingresso. Bob Dylan ao vivo é algo além de qualquer concepção. O palco seco, com apenas 48 luzes, segundo relatos, brilhava em uma cor prata que refletia sua maturidade em um grisalho ainda brilhante. Apenas pela voz - carregada e rouca -, as letras e a harmonia, o mito lembrava seus primórdios. Aquela banda que estava ali no Via Funchal transparecia algo totalmente diferente das melodias pequenas e intimistas do jovem Bob. Naquele palco, ele parecia um gigante, um ser venerável, realmente um ídolo, no mais puro sentido da palavra.


O show de ontem foi bem diferente daquele de dez anos atrás, quando ele, em um estádio, abriu o show dos Rolling Stones. Parecia que Dylan estava, desta vez, mais desprendido de qualquer compromisso de tocar o que o povo queria, o que comercialmente seria mais aceito. Dessa forma, ele exalou toda sua essência psicológica e musical. Seu jeito introspectivo, começando a tocar meio de lado para o público, e o fato de não dizer nada além de um thank you fora das letras mostravam sua arrogância, mas também revelavam aquilo que têm de mais real e profundo: o espírito elevado anti-popstar. Viajar em suas músicas era algo inevitável. Durante o show, a única sensação racional que se podia sentir era a de um desejo de que aquilo não acabasse nunca. Quem se decepcionou com a falta de Blowin’ in the wind ou com as versões estranhas de clássicos não sacou aquilo que Dylan sempre pregou: How many roads must a man walk down before you call him a man? Ele não precisa mais atravessar as mesmas estradas, para justificar sua grandiosidade. Ele traça novos caminhos, mais maduros, with no direction home.

4 comentários:

Anônimo disse...

falou e disse, menino-dan!

Anônimo disse...

Mas você anda muito sentimental para escrever...
Tá td bem?
Sentimentos confusos?

Bjos

Juliana Mattoni disse...

Belo texto.

Anônimo disse...

juju, deu o ar da graça no blog dos amigos! Que saudades!!! Vem pra terra da garoa visitar a gente! beijos