11/12/2006

Coutinho atrás da orelha

Tenho um preconceito com Eduardo Coutinho, aclamado como um dos principais documentaristas brasileiros da atualidade. Acho que ele tem bons filmes, com temas interessantes, mas toda vez que assisto a um de seus vídeos, fico incomodado com o modo que ele pauta e conduz suas entrevistas. Neste fim de semana, assisti a "Santa Marta: duas semanas no morro" (filme que vem junto no DVD do "notícias de uma guerra particular"). Nesse média-metragem, Coutinho deixa claro, num exemplo, que, para conseguir histórias da favela, colocou na porta de uma casa uma placa dizendo "entre se você tem uma história sobre violência no morro" ou algo assim. Dessa forma, ele consegue ótimas histórias, mas imagino quantas ele não ouviu e que, assim, pode ter editado o filme da forma como quisesse. Como jornalista, tenho uma teoria de que, quanto mais fontes você ouvir para uma matéria, mais fácil manipulá-la. Porque, com um monte de entrevistas, certamente você conseguirá extrair delas a história que quiser, mesmo que com uma frase de cada um. Imagine só dez entrevistas com seus melhores amigos sobre seus pontos fortes e fracos. Eles vão ter de dizer, no mínimo, alguma coisa contra você, mesmo que pensem participar de um perfil objetivo. Pense que depois alguém edite essas entrevistas só com seus problemas e coloque o título "Podres do Fulano, por seus melhores amigos - Biografia não autorizada". A mesma sensação tive com o Edifício Master, em que o Coutinho declara que fez pré-entrevistas com o prédio todo e, nas gravações, pedia para os caras repetirem o que haviam dito. Vejam bem, não discordo que os filmes sejam bons, mas sinto que ele, dessa forma, poderia dizer qualquer coisa e parecer uma história confirmada por muitos. Ah, sei que o Coutinho está com um filme novo nos cinemas, chamado "O fim e o princípio", sobre uma família. Mas ainda não vi.

Um comentário:

fê vio disse...

Dan,
sou muito fã do Eduardo Coutinho. E não acho que o exagero de fontes manipule o material, eu acho que dá voz a todos. Edifício Master é muito bom. Retrato da velhice carioca. O senhorzinho cantando "My Way" é muito emocionante. O novo dele "Princípio e Fim" também é bom, te faz parar no tempo e viver o tempo da terceira idade, que é bem mais devagar.