04/09/2010

Estar perto, estar longe - a vovó


Quando a gente sabe que é amado sabe que mesmo estando longe, estamos perto. Mas quando estamos longe vemos os que nos amam de outra maneira. Os vemos como indivíduos e não como papéis familiares que eles preenchem.

Hoje, ao ler alguns blogs, veio a inspiração de falar desses indivíduos. Deixar um registro dessas pessoas para quem as conhece e para quem não as conhece também. E a personagem do dia é a minha vó Maria, que acabou de completar 90 anos e talvez por isso esteja latente na minha memória.

No dia do aniversário da minha vó cheguei mais cedo na casa dela e enquanto ela se arrumava fiquei olhando a casa dela como há muito tempo eu não olhava. Uma casa cheia de lembrança, cheia de história e de História (com H maiúsculo). Quadros na parede, porta-retratos espalhados, livros, muitos livros, bibelôs, objetos da Europa, objetos de outras partes do mundo dado por outras pessoas da família.

No quarto dela, quadros com desenhos infantis feito pelos netos que hoje tem muito mais de 20 anos. Desenhos desbotados, amarelados, com fungo. Sinais do tempo. Na cabeceira foto dos filhos, crucifixos e seu velho e bom radinho de pilha.

Ela surge, linda, penteada, colar de pérolas, blusa de flores. Feliz, com sinais da idade e com a ansiedade de uma criança de 5 anos em seu aniversário. Eis que os convidados surgem, senhoras, senhores, bebês, amigos queridos, amigas do prédio, amigos da rua, o fisioterapeuta, a faxineira.

Lá, olhando a vovó, foi impossível não pensar no vovô. Ele que partiu há 5 anos e não esperou pelos 90 anos da mulherzinha dele. O quarto dele? Depois de 5 anos já está descaracterizado, mas os posteres de música clássica estão lá, o retrato feito à mão da esposa dele também.

Na hora do parabéns, o mais bonito, ela que até então observava tudo silenciosamente, fala: - Desejo que todos tenham a oportunidade de viver 90 anos como eu, pois sou muito feliz!

É, a gente esquece, mas estamos fazendo a nossa história a cada dia e depois tudo isso vira bate-papo em almoço familiar. Quando a gente dá risada, se emociona e se ama!

2 comentários:

Paty disse...

post sensacional Fe! Bjão

Luanda disse...

poxa, mto tempo sem passar por aqui e me emocionei de verdade com esse