05/03/2009

Turista calhorda

Big John é um personagem típico do Nordeste brasileiro, como o caranguejo, o retirante e a mosca. Nascido em Cremona, região norte da Itália, Big John trabalha o ano todo para tirar suas merecidas férias tropicais. Em fevereiro foi a terceira vez que veio ao Brasil, mas também já frequentou o Caribe. Diferentemente do que se possa prever, Il grande giovani não foi visitar a maravilha dos Lençóis Maranhenses pela beleza local. Na visita às lagoas, depois de uma viagem em um 4X4 safado de uma hora e meia e uma caminhada nas dunas bastante cansativa, BJ entrou na piscina natural com sua sunga e, passados 5 ou 10 minutos, já estava pronto para ir embora. Não era aquilo que mais lhe interessava ali.
Gigante de quase 1,90 e aproximadamente 120 quilos, com muita massa muscular – Big John era o que estava gravado na tatuagem de um dos seus bíceps e, no outro, parecia haver o símbolo de uma gangue ou coisa assim –, ele desfilava com seu sorriso de canto, abaixo daquele bigodinho feito pela metade típico dos mafiosos italianos. Um bom-humor freqüente. Comendo de tudo, rindo, tomando sol, mas aparentemente sempre estava à espera de outra coisa.
O que a aparência indicava foi logo revelado em um almoço no qual, depois de nos cruzar por uns 2 ou 3 passeios, Big John veio sentar-se ao nosso lado, meu e de murillo. Sim, Biggy era um turista sexual por excelência e não estava nem aí para praia, lagoa, belezas geográficas, rios ou qualquer outro passeio convencional.
As belezas naturais que atraíam nosso fratello ao Brasil eram as humanas. Mais precisamente, femininas. “Ma non meninitas, hein”, fazia questão de enfatizar nosso personagem,tentando ser politicamente correto mas sendo moralmente e legalmente condenável. Ao longo do papo, ele nos expôs uma escala Big John das praias que visitara no Brasil. Apreciou muitíssimo Canoa Quebrada, porque, aparentemente, por lá conseguia melhores programas a bons preços, mas não gostou muito da zona de Jericoacoara, que, depois, descobrimos praticamente não haver. Ao menos não aparentemente.
Big John explicou, segundo seus critérios, o porquê de preferir passar férias no Brasil à Cuba. “Em Cuba, as mulheres são muito ‘calientes’, mas a comida não é boa. Uma hora é pollo e na outra porco. Pollo e porco, pollo e porco, por un mês. Aquí no Brasil há carne, pesce e muitas otras comidas buoníssimas. E las mulheres também são buenas.”, disse ele misturando os idiomas, como um viajante experiente.
O turista calhorda explicou também a comum opção que os seus pares têm de fazer ao aqui chegar. Eles optam por uma “namorada”, que os acompanha durante toda a viagem, ou por diversos programas esparsos em cada lugar onde estiver, com a moça que descolar no dia. Big John, sempre escolheu a segunda opção. “A namorada costa molto. Está na praia e... pesce, camaron, cerveja, caipirinha... Depois, massagem. Depois, manicure, pedicure. E, quando chega na hora do vamos ver, ela diz... ‘sabe, eu tenho uma família para sustentar, eu passo necessidades’. É uma mierda. Ela quer mais dinheiro”, disse o intrépido viajante.
E, mais que isso, realmente, vimos ao longo da viagem, prostitutas que literalmente davam chiliques na frente dos seus clientes gringos, além de sugar o máximo que podiam deles. Em pleno restaurante à beira de uma lagoa, uma dela expunha seus sentimentos e até chorava. Acredite. O cliente chegava a se irritar. Um contra-senso. Como bem dizia Tim Maia, “este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita.” É, pelo menos o primeiro ícone descobrimos que existe.
Mas isso não acontecia com Big John. Não... Ele caçava sua presa em cada lugar diferente. Descobrindo os sabores e dissabores da "culinária local". Curtindo mais Fortaleza do que Jericoacoara. Mais São Luís a Barreirinhas, porta de entrada para os lençóis, por causa da presença feminina profissional.
Ao longo da viagem, encontramos vários Johns vagando pelo Nordeste. Principalmente em Natal, onde eles e elas parecem promover um encontro mundial da luxúria. Eles voltam divulgando por aí, além de seu bronzeado, a fama de que este país é o paraíso do sexo pago. Infelizmente, não dá para contestar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Maldita realidade.

Anônimo disse...

Dan, esse relato está com toda cara daquela primeira página da Carta Capital. Arranja um codinome e manda pra lá.
Esses turistas não estão só no Nordeste. No Rio, outro dia, vi um russo que insistia em levar uma "colega" para seu quarto... Triste realidade...

Cecília Ramos disse...

Essa fama é lasca!