28/08/2008

Ensaio sobre a cegueira

Por Marilia Neustein, que foi à pré-estréia

Adaptar um livro para as telonas é sempre um desafio. Ainda mais sendo um livro, ou melhor, O LIVRO, do Saramago. Quem se perdeu na não-pontuação do escritor, estava, no mínimo, curioso para saber qual seria a solução do diretor Fernado Meirelles. Tá, a gente sempre se empolga quando um cineasta nosso faz um trabalho legal, de peso. Mas eu fiquei impressionada, digo, bem-impressionada. O filme acerta em pontos cruciais:
1. Não é pretensioso
2. Consegue a proeza de transmitir, com imagens, a sensação de cegueira.
3. É sinestésico. Apesar de só assitir, dá a sensação de estar mexendo com todos os nossos outros sentidos.
4. Por fim, suscita novamente a questão proposta no filme de Walter Carvalho: para onde olhamos e o que, de fato, vemos? O filme, de uma violência atroz, mesmo sem tiros e espetacularizações, usa a dor, a tortura e o clima de tensão, como ferramentas para exprimir essa metáfora delicada e séria - o olho é de fato, a janela da alma? Meirelles conseguiu provocar, assim como Saramago, as inquietações do limite humano, de forma forte, musical e porque não... literária. Vale a pena.

Nenhum comentário: