18/06/2008

Conflito eterno

Os filmes de Stanley Kubrick são mesmo tão melhores do queos livros em que se baseiam? Há como se adaptar em imagens e poucas horas a complexidade e a imaginação embutidas em um romance? Quando assistirmos, faremos a inevitável comparação entre o Blindness de Fernando Meirelles e o original de Saramago... Como prévia desse embate livro X filme, nas últimas semanas li o clássico Crash, escrito em 1973 por J G Ballard, e assisti a Crash, estranhos prazeres, de 1996, por David Cronenberg. O primeiro, virou conhecido pela adaptação de seu texto semiautobiográfico O Império do Sol, que também virou filme. O segundo foi autor de A Mosca e outros filmes com um pé na ficção científica polêmicos.
A história é um thriller de violência e erotismo depois de Henry Ford. É uma espécie de predecessor do que se convencionou chamar de pornoterror, que se vê hoje em dia na seqüência Jogos Mortais e em filmes de Robert Rodriguez. Para mim, o livro é muitas vezes melhor do que o filme, porque foca principalmente os conflitos internos de Ballard (o protagonista leva o nome do autor) e a sua transição de pacato profissional de comunicação para se tornar um tarado (sem que o termo seja uma metáfora) por carros após um acidente. No filme, é tudo rápido, superficial, sem falar nas mal sucedidas mudanças no texto. Os atores também deixam a desejar, em comparação com a personalidade mais complexa feita mentalmente pelo leitor do filme.
Apesar da experiência com Crash, não acho que os livros sempre sejam melhores do que os filmes. O que acontece comigo é a preguiça de ler um livro depois de ver o filme (como ocorreu com Desejo e reparação, de Ian McEwan). Quando leio o livro, ao contrário, sinto-me motivado a ver o filme, para perceber se o diretor pode me oferecer algo mais do que já senti ao ler. Não foi o caso de Crash.

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