09/12/2007

Il dolce libro

A soberba que dá linha ao clássico de Fellini, La Dolce Vita, é a óbvia inspiração principal de O Dia Mastroianni, de João Paulo Cuenca. Assim como no filme, também a luxúria e a vaidade acompanham o dia do protagonista desta vez. O livro é cinematográfico pela descrição das cenas, pela narração e pelas citações, de Kubrick a Gondry. A história, que gira no limiar da realidade e da fantasia, é comentada pelo próprio narrador e um personagem onisciente ao longo dos capítulos (horas do dia). Um exercício de metalinguagem irônico e inteligente. Ao longo do texto, o autor brinca com clichês tradicionais do cinema e da literatura, com tradições atuais, em um lugar também incerto, mas conhecido de todos. Como uma boa história sobre o dia de um jovem, ela obviamente fica muito melhor depois da meia-noite. É no fim do livro que Cuenca deixa fluir suas idéias mais surreais, sua poesia e sua narrativa alegre. Cuenca já foi descrito, ao lado de Galera, como um escritor de (desta) geração. Diferentemente do colega, ele ousa mais, brinca mais e fica menos preso à realidade. Vale a pena.

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