25/06/2007

Saída pela África


Desespero e fuga são temas que fariam grande parte dos renomados diretores de teatro se esbaldarem em cenas carregadas de sentimentalismo, gestos de dramaticidade descomunal e choros intermináveis, mas Aderbal Freire Filho tomou uma atitude sóbria e inteligente para tratar o tema em "O Continente Negro", bela peça em cartaz no Teatro Faap a R$ 50. O pensamento e os atos são mais valorizados do que exageros. É um texto difícil e cheio de diálogos, que, a princípio, fazem a peça parecer esquizofrênica, com histórias sem sentido. Mas é com a seqüência de cada quadro que se percebe a riqueza dos personagens e a representação de cada um das angústias do mundo de hoje. O cenário ousado é praticamente um personagem à parte, que explicita de forma inteligente a fragmentação da peça ao redor do tema da fuga, tendo a África como metáfora. Por sinal, uma bela ironia no texto do chileno Marco Antonio De La Parra tratar um lugar tão desconhecido e popularmente inóspito como saída dos desesperados. Talvez represente que a fuga quando assumida de forma inconseqüente leve a um lugar pior do que onde se encontram, sinal de que as decisões devem ser tomadas também sobriamente. Enfim, é uma peça de sair e pensar um bom tempo sobre.

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