Epopéia musical

Fabulosamente inesperado foi o show do Bajofondo Tangoclub, liderado por Gustavo Santaolalla, ontem, no Via Funchal. O grupo é um dos principais ícones da geração que reformulou o tango argentino – ao lado do mito Gotan Project –, misturando elementos da música tradicional argentina com instrumentos eletrônicos. Santaolalla é um exímio compositor, principalmente na elaboração de trilhas para filmes. São dele os sons de “Amores Brutos”, "21 gramas", “Brokeback Mountain” (Oscar) e “Babel” (Oscar), entre outros. A maior qualidade de seu som – talvez por ser especializado em trilhas – é que eles são epopéias músicas. De modo extremamente harmônico, todas as canções “têm algo para contar”. As músicas são claramente encadeadas de forma a ter um início, meio, clímax, por vezes anticlímax e um final apoteótico. Da mesma forma é o show, que começa com canções mais para o tango e termina com músicas mais eletrônicas, com direito a balada no fim e (pacífica e divertida) invasão do palco pela platéia antes do bis. Eles extrapolam os limites da música, tanto na estrutura do show, como no telão ao fundo, comandado por uma VJ que é integrante da banda. Santaolalla esteve no Brasil para o festival música em cena, que reuniu produtores de trilhas de filmes, inclusive Enio Morricone.